quinta-feira, 29 de julho de 2010

nem tudo tem um título...

o vento bate frio na janela,
aqui dentro minha alma quente,
o vento insiste...
minha alma cada vez mais se aquece,
que calor é esse, quase estranho.
uma satisfação de um desejo cumprido
concorrido e maleável,
finalmente aceitado dentro de mim...
suspiro fundo!
movimento o pescoço em círculos,
fico tonta,
pensamentos me rodeiam...
bocejo, sossegada, inqueitamente sossegada!
apatia me cercou?
deslizo os dedos nos cabelos lisos,
quase letárgica, sorrio para mim
decididamente nos últimos anos tenho sido minha melhor companhia.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

olhando de outro ângulo

Estava um dia de sol, Mariana adorava sentir o cheiro das flores do jardim, como era bom sentir aquele calorzinho nas maçãs do rosto e ficar apertando os olhos de frente ao sol, para depois quando abri-los ver muitas estrelinhas no ar, ela ria-se sozinha de felicidade, como era bom estar ali naquele jardim ouvir passarinhos, e logo ali tinha um beija-flor numa florzinha artificial que sua avó, estratégicamente, colocara dependurada na varanda.
Havia muitas espécies de plantas, cada uma mais bem cuidada que a outra. Mariana cuidadosamente passeava por elas, nada de estragar as plantas da vó Maria. Um gato preguiçoso tomava sol estirado em cima de umas telhas, Mariana coçou sua barriguinha e ele revirou-se num dengo só. Era bom se sentir assim tão leve, tão solta, poderia correr atrás dos passarinhos, se quisesse, olhar a natureza e sentir-se parte dela.
Alcançou o pé de goiaba, estava carregado, pensou que sorte a sua vir para a casa da vó Maria  bem na época das goiabas, ela adorava goiabas, vermelhas principalmente, madurinhas, apetitosas.
Foi bom fugir um pouco da cidade, das ruas movimentadas, do calor do asfalto, dos compromissos a resolver, do fórum, dos processos, de tantas coisas a fazer. E ela precisava se desligar de tudo isso, pelo menos por uma semana, que seria o tempo de estadia na casa da vó Maria. Precisava descansar, repensar, deveria se casar? seria ele o homem da sua vida? nada melhor do que afastar-se do problema para enxergá-lo de outro ângulo, mas o que ela estava pensando, ele não era um problema, era um adicional na sua vida, viria completá-la, ajudá-la e reciprocamente ela faria o mesmo.
Um vento soprou seu rosto, como era bom estar ali. Fechou os olhos, e ouvia a sua a avó chamá-la - Vem Mariana, comer bolo de fubá- Ela adorava bolo de fubá, respondeu que já iria e, cuidadosamente, foi voltando rodando as rodas da sua cadeira.

terça-feira, 20 de julho de 2010

o encontro

Aconteceu bem de repente, foi um olhar rápido pela janela do carro, um meio sorriso no rosto. Sinal fechou, os carros pararam lado a lado, ela quase não teve coragem de virar-se, mas não aguentava esperar mais, e virou-se e encontrou outro olhar, encarando-a. Aquele olhar ela já conhecia, olhos cansados mas brilhantes, olhos marcantes, lembrou-se daquele olhar severo, repreendendo-a de algumas coisa no decorrer da vida. Não seria possível aquilo estar acontecendo, depois de tantos anos longe de casa, encontrar por acaso seu velho pai no trânsito. Era muito pouco provável disto acontecer até porque ele morava em outra cidade. O que estaria fazendo ali? e dirigindo um carro? até onde ela se lembrava ele havia tido problemas com sua carteira de motorista, por causa de multas graves, havia perdido a carteira.
Era realmente inesperado, ele parecia um pouco assustado, de certo também não esperava aquele encontro. Ela se lembrou do dia em que saiu de casa, qual tinha sido mesmo motivo? Ah sim, a desculpa tinha sido um namorado que ela havia arrumado e ele não havia concordado, por onde será que andava aquele rapaz, fonte de tantos contratempos? A sua boca quis balbuciar algumas palavras para seu pai, ele a olhava apreensivo como se não quisesse perder aquela oportunidade. O sinal ia abrir, não haveria tempo para um diálogo de reconciliação. Ela sentiu no peito a dor da saudade da mãe, um misto de amor e raiva, amava-a demais e quando ela se foi desta vida, que solidão... e ter que viver com aquele homem que eatava ali ao lado, perverso, severo, radical. Não, definitivamente, não gostaria de falar com ele, era melhor olhar a frente e imaginar que era um estranho no carro ao lado, afinal não era isso que tinha sido todos estes anos, um estranho?
Ela ouviu uma leve buzina, virou-se, algumas lágrimas caiam do rosto do estranho do carro ao lado, não podia acreditar. Aquele homem tinha lágrimas dentro dele? como nunca tinha visto isso? Ele disse algo que não se podia entender, ela tentou focar o sinal a sua frente que já deveria ter aberto. Outra buzina de leve, ela não podia acreditar que estava passado por isto, olhou abaixou o vidro, as lágrimas insistiam. Interrogou secamente, sobre o motivo dele estar ali, e ele chorando disse que estava à sua procura e pediu que ela encostasse o carro mais a frente. O sinal abriu, ela seguiu com o carro um pouco mais, e finalmente tomou coragem e encostou o carro, o estranho parou logo atras. Não tinha mais como correr, chegou a hora de finalmente se conhecerem.

domingo, 18 de julho de 2010

IDENTIDADES MULTIPLAS

Quando olhas dentro dos teus  olhos, vês o castanho da terra seca
a água que rega essa terra parte de dentro deles e escorre transparente pelas maçãs
sua imagem refere-se a uma duplicidade compartilhada por outras imagens
os papéis que desempenhas se entrelaçam, se embaraçam, se amontoam, se amassam
dentro de você, respiram vários eus, confundem-se?
cada eu se fortalece em determinado tempo, apegando-se mais fortemente na sua alma
ás vezes acalenta, ás vezes se maqueia, ás vezes se entrega a dor , ás vezes ao amor.
nenhum deles consegue apagar o outro, múltiplos, divergentes, convergentes
atentos e desatentos ao passar as página da vida
alguns deles julgam-se suficientes e arrogantes sufocam seus companheiros
alguns julgam-se inferiores e elevam seus pares.
a imagem nem sempre é fiel, traços fortes marcam o rosto cansado.
Haverá motivo para continuar a luta?
sempre há motivo, sempre há uma razão ainda que seja contraditória ao que é razão para alguns.

sábado, 17 de julho de 2010

sem título

meus olhos percorrem as ruas da cidade
almas perâmbulam por elas, perdidas nos seus corpos viventes
indecivas, vulneráveis, aflitas por socorro
minha boca deveria pronunciar palavras de alento
minha mão deveria alcançá-las
o pedido de socorro ecoa no ar
grita desassossegado dentro de mim
o convencional já não resolve
elas já não ouvem
muitas vozes maiores que a minha ecoam nas ruas,
telas amplas e pequenas trazem respostas rápidas e vazias
o pedido de socorro é silenciado por alguns momentos para alguns
mas sempre tem almas morimbundas vagando 
aflitas sem resposta, sem alento
penso em responder
será que tenho as respostas certas?
não seriam minhas respostas convencionais demais?
não seriam óbvias demais?
quando me percebo no contexto
estou caminhando na rua vazia.