quinta-feira, 19 de agosto de 2010

eu amo essa música...




Por Onde Andei

Nando Reis
Composição: Nando Reis

Desculpe
Estou um pouco atrasado
Mas espero que ainda dê tempo
De dizer que andei
Errado e eu entendo
As suas queixas tão justificáveis
E a falta que eu fiz nessa semana
Coisas que pareceriam óbvias
Até pra uma criança

Por onde andei?
Enquanto você me procurava
Será que eu sei?
Que você é mesmo
Tudo aquilo que me faltava...

Amor eu sinto a sua falta
E a falta
É a morte da esperança
Como um dia
Que roubaram o seu carro
Deixou uma lembrança

Que a vida é mesmo
Coisa muito frágil
Uma bobagem
Uma irrelevância
Diante da eternidade
Do amor de quem se ama

Por onde andei?
Enquanto você me procurava
E o que eu te dei?
Foi muito pouco ou quase nada
E o que eu deixei?
Algumas roupas penduradas
Será que eu sei?
Que você é mesmo
Tudo aquilo que me faltava..

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

frio

vai passando devagar o tempo,
faz frio, meus pêlos arrepiados e meus pés gelados denunciam.
esfrego as mãos procurando tirar de dentro de mim algum calor
penso num chá quente, é tarde, congelo-me.
minhas mãos esfregam o corpo buscando calor....
a maciez do cobertor poderia resolver, reluto.
o tempo mesmo devagar vai passando
me levantaria da inércia congelante
estimulada pela sua mão estendida
mas ela não está diante de mim
congelo-me ofegante pensando no calor do seu abraço
o toque insistente do celular me desafia
o enterro embaixo do travesseiro
desisto dele.
cansam-se palavras vazias,
melhor não ouvi-las.
o frio insiste assobiando na janela
ouço um buzina
falta-me coragem de levantar
congelei-me
a buzina insiste,
vagarosamente alcanço a janela.
pela vidraça vejo
o calor chegou.

sábado, 14 de agosto de 2010

avessos

por dentro de mim, só tem avesso.
só tem contrários a posição do direito
 tem saudades que por fora, fazem pouco caso
por dentro de mim tem incertezas,
que por fora são verdades...
por dentro, no avesso, meu olhos lacrimejam
no avesso, palavras brotam ,
enquanto no direito se calam.
por dentro de mim, a ira.
por fora compaixão.
o avesso incerto me dilacera,
por fora me costuro.
dentro de mim tem um grito entalado,
por fora um silêncio.
dentro de mim, o avesso se estampa,
por fora a figura desenha.
dentro de mim, a decepção
por fora a compreensão.
no avesso, o amor desencantou-se,
por fora de mim, o amor foi-se (foice).
o avesso não me entende,
o direito me perde.
a boca calada, silenciada
entalada, entulhada.
por fora meus olhos lacrimejam,
pelo avesso junto os pedaços.
costuro-me.
não tem como separar o avesso do direito.
quero ir para longe de mim,
mas percebo minha integridade
sou avesso e direito,
sou contrários que se completam.


quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Insônia

Vai amanhecendo devagar, o sol entra cuidadoso pela janela
Temeroso em acordar-me, espreguiça-se silencioso.
Já me encontro em alerta,
minha alma inquieta despertou, antecipando-se,
O sono foi embora ainda escuro,
deixou-me como quem deixa um amor que acabou
Envolvida nos braços macios do cobertor, insisto.
Doe-me os ossos.
O sol acaricia meu rosto, reluto.
Porque insistir em algo que se foi,
Porque lutar, perdeu-se.
Pensamentos substituiram o sono,
revezam-se a anos, brigam entre si,
disputam favores, preferências.
Sem favoritismo sigo dividindo a noite.
E repartindo o dia.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

saudades...

saudade machuca, doi no peito a solidão desnuda.
olhando pela janela, ja não te vejo,
no chão o vento apaga teus passos.
inconstantes, às vezes querendo voltar.
meus olhos molhados seguem teus rastros
não me resta nada além da dor inconfundível da solidão
minha alma cansada luta desesperada procurando alento
a dor nostalgica da saudade é quase um acalento.
pensamentos, esperanças, onde foram minhas verdades?
deixaram-me?
o tic-tac do relógio acusa o tempo da despedida
apago a luz, já não há esperança
fecho a janela, tranco a casa,
corro atrás de vc!

sábado, 7 de agosto de 2010

Lembranças....

Ele procurou por uma campainha. Até onde se lembrava havia uma no canto da parede, mas não conseguia encontrar, quando olhou para cima viu uma câmera de segurança o observando, e logo abaixo um interfone, pensou em como a modernidade havia chegado num lugar tão remoto como aquele. Não exitou, tocou o interfone, depois de alguns, para ele intermináveis minutos, uma voz atende do outro lado. Explicado o motivo da visita o pesado portão, agora eletrônico, vai abrindo-se devagar. Olhando para o interior tudo parece intocado, o jardim de margaridas estava lá florido, as roseiras cheias de rosas vermelhas. Lembrou-se de quantas vezes havia furado os dedos ali cuidando das rosas, o chafariz que despejava água por duas jarrinhas que se encontravam no centro da fonte ainda funcionava. Uma vez ele e seus amigos, todos crianças, brincavam próximo da fonte e um deles o derrubou dentro dela, molhando-o todo, foram muitas broncas e o castigo, uma semana sem lanche a tarde e um dia inteiro de castigo dentro do dormitório. Afinal, muitas coisas haviam acontecido, pensou em perde-se em pensamentos, mas não houve tempo, uma senhora rechonchuda aproximava-se, sorriso simpático, ficou buscando na memória, achava que a conhecia. Sim, a conhecia, era Rosinha, a pequena mocinha que ajudava nas tarefas da cozinha, nossa como ela havia mudado, agora era uma senhora de uns quarenta anos, por ai, considerando o fato dele hoje ter trinta anos, ela deveria ter uns quarenta ou quarenta e cinco no máximo. Ela não teve a menor cerimônia, o abraçou apertado e sorrindo muito de alegria- Antonio, achei que nunca mais ia ver você, olhe para você é um homem feito, como está bonito!- Ele sorriu meio sem graça, não esperava aquela recepção, muito menos encontrar a Rosinha por ali depois de tantos anos, afinal ela era uma que sempre quisera fugir daquele lugar. Rosinha entendeu seu olhar perplexo, e foi conduzindo-o ao interior do orfanato. Só de passar pelas portas ele sentiu uma sensação estranha, parecia que suas pernas falhavam e suas mãos estremeciam, Rosinha percebeu o choque e segurou mais forte a sua mão, confortando-o com um sorriso- Antonio, este lugar não é mais o mesmo que você conheceu, existe uma história que eu vou te contar- Neste momento passam por ele um grupo de crianças correndo e sorrindo alto, definitivamente não era o mesmo lugar, lembrou-se de atravessar aquele corredor inúmeras vezes, em fila e sempre calado, sem sorrir, aliás sorrir era uma coisa que ele teve que aprender depois que saiu de lá. Junto com  grupo vinha uma professora linda, devia ter um vinte e cinco anos, ela trazia pela mão uma criança com síndrome de Daw, outra coisa absurda, o orfanato jamais havia admitido crianças "com defeito", esta situação o fez virar-se para trás, e ver a professora sorrindo para ele e a criança também. Não sabe bem por que mas sentiu um certo conforto com aquelas duas pessoas sorrindo e mais a mão de Rosinha que ainda o segurava, conseguiu sorrir de volta. Pararam em frente a sala da diretoria, um frio subiu pela sua espinha, quantas vezes foi até aquele lugar para ser castigado, ou receber tarefas novas para cumprir ou na esperança de que havia alguém que quisesse adotá-lo. Bem, na verdade um dia houve alguém sim que quis adotá-lo. Rosinha o confortou -Não se preocupe, Antonio, você não vai encontrar a Dona Amália por detrás destas portas, ela já se foi desta vida, agora esta sala é minha- A porta foi abrindo devagar, ele não podia acreditar, eram os mesmo móveis clássicos, mas havia flores nos vasos, retratos de crianças nas paredes, um canto com brinquedos pedagógicos, o tapete debaixo de seus pés era macio, as janelas estava abertas e o sol fazia parte da sala, era quase inacreditável que na antiga sala da Dona Amália agora houvesse vida! Foi convidado a sentar-se, possivelmente a primeira vez depois de trinta anos que se sentava naquela cadeira, sempre ouviu seus comandos em pé, e ás vezes ouviu broncas ajoelhado em frente a parede, mas jamais havia sentado ali. Pacientemente, Rosinha foi contando toda a história para ele, tudo que aconteceu naquele lugar depois que ele havia ido embora adotado pela família Soares, uma abastada familia do sul do país.  O processo de mudança  começou com a denúncia de uma ONG, sobre os maus tratos que ocorriam com as crianças no orfanato, então aconteceu a intervenção do governo federal e a dona Amália foi afastada da direção do orfanato, uma entidade beneficiente tomou conta do local, mas foram tempos dificeis de adaptação e muito planejamento, algumas vezes eles passaram por várias dificuldades, mas o tempo foi o melhor amigo do orfanato, Rosinha  contou que com ajuda da ONG, fez faculdade de psicologia e não conseguiu se fastar daquele local, havia muitas crianças que precisavam de amor ali e ela estava muito presa emocionalmente aquele lugar, afinal foi a casa onde ela foi criada, desde bebê quando fora abandonada ali. Ela na verdade nunca conseguira localizar sua pobre mãe que abandonara, mas ela sabia que ali havia muitos irmãos e irmãs suas que precisavam dela e isto a motivou a continuar. Antonio estava pasmo, era tão inacreditável estar ali ouvindo tudo aquilo e não se conteve e chorou emocionado, comovido, esperançoso, enfim aliviado, sentia-se vingado, justificado. Rosinha que sempre fora uma "manteiga derretida" chorou junto e ficaram assim por quase uma hora recordando lembranças e conhecendo os novos planos do orfanato. Enfim havia chegado o momento, o motivo da visita veio a tona, Rosinha disse ao Antonio que após uma detalhada pesquisa, respondendo a um pedido escrito que ele havia enviando antes, ela havia conseguido localizar a pessoa que o deixara, trinta anos atrás naquele lugar. Abriu a gaveta e passou a ele um papel com um nome de mulher e um endereço escrito - Ela está viva, mora neste endereço, na cidade vizinha, não estive pessoalmente com ela, falei ao telefone, mas ela o aguarda ansiosa- Realmente dona Amália havia mentido a familia Soares, quando alegou que não sabia quem era sua mãe verdadeira, só agora depois de trinta anos que ele saberia os motivos do abandono. Levantou-se para partir, mas Rosinha o deteve, de jeito nenhum o deixaria ir embora sem conhecer o "novo" orfanato e o levou a um passeio pelas dependências, disse a ele que  seria bem vindo se quisesse ajudar aquelas crianças, afinal sabia que agora ele era um advogado formado e já com uma experiência e sua ajuda seria muito bem vinda, uma vez que sabia também que ele já não morava no Rio Grande do Sul e havia voltado para São Paulo, não havia se casado ainda e estava montando um ecritório de advocacia. Antonio sorriu perguntando onde ela havia adquirido tantas informações, Rosinha se limitou a falar que era uma boa detetive. Chegaram ao antigo refeitório, era hora do almoço, as crianças conversavam e comiam alegres, lembrou-se de suas antigas refeições ali, podia-se ouvir o barulho de uma folha caindo no chão, sorriu satisfeito finalmente conseguiu sentir-se seguro naquele lugar, as crianças sorriam e uma delas abraçou suas pernas quando virou-se viu a linda menina que portava Síndrome de Daw, ela segurando sua pernas sorriu dizendo que ele era bem vindo ali, ele abaixou um pouco e tomou-a nos braços, quando virou  se deparou com o sorriso de Rosinha e da professora linda que ele nem sabia o nome. Pensou que afinal poderia sim demorar um pouco mais ali, e quem sabe voltar e continuar a reescrever aquela história. O encontro com a mãe ficou um pouco mais para o final da tarde. 

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Morango com chocolate...

Já estava tarde. Chovia um pouco. Um copo de chocolate quente e um programa de humor eram sua companhia, o perfume do banho recém tomado vinha do banheiro, que sabonete cheiroso- pensou- teria valido a pena trocar a fragância. Pensou em algo para comer, mas todas as idéias eram extremamente calóricas, riu-se e imaginou que morangos combinariam com o chocolate. Foi até a geladeira e achou os frutinhos, vermelhinhos e saborosos, depois de prepará-los, engalfinhou-se no sofá quentinho. O gato miava querendo colo, mas ela o pôs na manta no chão próximo ao sofá, não demorou muito para que ele adormecesse.
O programa da TV estava muito chato, mas hoje em dia qual TV não anda chata? Percorreu os canais a cabo, achou uma comédia romântica, não! Ela não queria ver aquilo...  não teve jeito aquele ator lindo chamou sua atenção e aquela atriz, sim, eram o par perfeito. Ficou pensando como hollywood tinha este dom de juntar pares perfeitos, riu-se talvez fosse o caso de dar uma passadinha por lá, quem sabe encontraria algo. Já fazia três dias desde o rompimento, não se sabe ao certo qual teria sido o motivo da briga, um amontoado de coisas, talvez... um cansaço acumulado através dos anos? vai saber...
Mas, definitivamente, não queria pensar nisto, afinal, já teve tempo suficiente para ambos pensarem muito, agora só restava esperar e ver os acontecimentos.
O telefone tocou. Seu coração pulou num sobressalto, será que justamente ele teria resolvido ligar, suspirou fundo e depois do alô a decepção, era sua amiga que preocupada perguntava por onde ela andava, conversas, risinhos, algumas lágrimas, mais risinhos e a amiga desliga.
Antes só do que mal acompanhada, mas que isso? que bobagem era essa que ela estava pensando, depois de tantos anos juntos. Chega! Chega! Chega! O filme estava bom, era só aproveitar e ver Julia Roberts beijando aquele lindo do Hugh Grant, enfim valeria a pena. Riu-se de novo, como mulher era fácil de se enganar, era só ver romance na TV e pensar que era ela mesma no papel principal.
O filme já caminhava para o final, era o momento do arrependimento do moço de não ter ido atrás da amada e aquela correria de encontrá-la havia começado.
Lembrou-se do dia em que se perderam num parque de diversões, algo que parecia impossível de acontecer havia acontecido, ele estava em uma barraca de tiros e ela como sempre detestou armas, nem havia se arriscado, saiu destraída olhando as pessoas e as crianças brincarem com algodão doce, quando deu por si estava longe da barraca e quando voltou, ele já não estava lá. Ele havia terminado seus tiros e saído ao encontro dela na direção oposta, achando que ela queria comprar uma pipoca doce que estava mais a frente. Enfim, perderam-se. Ela ficou pensando no que sentiu naquele dia, um misto de medo com saudade, alguma nostalgia de estar ali sem ele, foi quando ouviu no alto-falante do parque- "Angélica, seu amado Luíz a aguarda ansiosamente em frente a roda gigante, por que ele disse para mim que sem você, não pode viver"- Foi hilário aquele dia, e quando chegou em frente a roda gigante, lá estava ele e mais um bocado de gente esperando para ver se a Angélica tão amada apareceria, lógico que teve o beijo e alguns aplausos tímidos... Olhou para a estante, lá estava a foto do dia do parque eternizando aquele momento, sentiu lágrimas nos olhos , enxugou-se, lembrou-se do filme, Hugh Grant já declarava seu amor por Júlia, na frente de um monte de repórteres...
Suspirou, pensando que lindo aquilo, comeu um morango. A campanhia tocou, outro sobressalto, com certeza não era ele, porque ele tinha a chave do apartamento, nem era alguém estranho, senão o porteiro teria avisado. Devia ser sua vizinha que lhe prometera levar um pedaço de alguma coisa gostosa que ela havia feito, pensou que era muito tarde, mas como a vizinha estava solitária... Comeu outro morango.
Abriu a porta e não podia acreditar, ele estava lá na sua frente, meio molhado pela chuva, com uma rosa na mão, um sorriso nos lábios e uma frase de amor na boca. Ela sorriu, afastou-se para que ele entrasse, pegou a rosa. Cheirou-a e foi surpreendida por um beijo, seu olhar interrogativo foi respondido pela resposta dele-estava limpando um restinho de chocolate.
Ela o abraçou, nada mais precisava ser dito naquele momento. Quando olhou a TV, Julia Roberts descansava num banco de jardim no colo de Hugh Grant, mas ela já não  fazia mais inveja, pois seu amado voltara.
Descobriu que afinal,  Hollywood, estava mais próximo do que ela imaginava.