sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A campainha toca insistente
vagarosamente me viro para o relógio
acho tarde demais para atender a porta
já se foram as horas, os dias as estações
é preciso parar e pensar um pouco mais
talvez seja tarde para tudo
talvez seja a hora exata de quebrar o relógio
e parar a contagem do tempo
a campainha insiste
só me resta ignorar, ou não.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Silêncio

O silêncio anda gritando no meu ouvido.
palavras ditas nas entrelinhas me desafiam a torna-las audíveis
me sentencio a ouvir e calar
tenho "furado meus olhos?"
calo-me gritando
meu interior explode no silêncio da rua vazia
até onde suportarei a dor?
até onde a tortura das tuas palavras queimarão minha alma como pontas mal apagadas?
meus dedos atravessam os fios lisos dos meus cabelos
por mais que eu me esforce em apertá-los
a resposta não sai de dentro da minha caixa pensante
ah o silêncio destrói!
o silêncio que minha boca expressa
contrariamente do meu interior que explode em palavras!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Este é um poema de amor

tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...


E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.


Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo...


"Poeminha Amoroso"

Cora Coralina

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

divagando...

Como buscar, depois, palavras soltas ao vento?

depois de oferecê-las, não há como tomá-las.
palavras são presentes que damos e não sabemos se agradamos, ás vezes a intenção é boa , mas o resultado é catastrófico,
as vezes são como presente de grego.
as vezes são doces como mel...
as palavras ditas com mentiras algumas vezes agradam mais do que as ditas com a companhia da verdade.
vai saber...
folhas leves jogadas no vento, sobem e descem no ar, como pegá-las? são passaros presos que uma vez libertos por vontade própria ou por um descuido, jamais se pode retornar.
ah as palavras...
quisera eu dizê-las sem compromisso,
não há meio disto acontecer,
jamais.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Chove finalmente,
As torres de areia derretem-se,
o castelo se foi
o principe desencantou-se
o cavalo branco sujo de respingos de barro
nem liga, refresca-se numa poça d'agua.
ironia
logo agora que a coroa seria posta na cabeça
o trono seria tomado, derretem-se todos eles
o fundamento era raso, a estrutura rompeu-se!!

sábado, 16 de outubro de 2010

Que insistência esse seu olhar
insiste em vigiar-me, rodear meus passos
policiar-me.
quisera eu arriscar-me um pouco mais
caminhar um pouco mais,
seu olhar me limita
me constrange
me inibi
respiro cansada.
o ar fugia pela janela do carro
o peso do calor me sufoca
abro a porta e corro
sem destino pelas ruas vazias da cidade
você não me segue
não, não há ninguem atraz de mim
por que continuo sentido o teu olhar?
ele impregnou-se em mim
cercando  e me constrangendo
mesmo quando não podes mais me ver.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Era longe demais o horizonte....
era longe demais
a verdade era mentira o tempo todo
as palavras suavisam o ouvido
e pertubam a alma
mentiras confortantes
holofotes sempre são necessários
foram-se os anéis
e levaram os dedos e os braços
carregaram as forças
chega de insistir
palavras ferem demais
indiferenças também
a força do recomeço
me deixou faz tempo
necessário achar um mapa
onde estará?
"palavras vazias não me interessam"
por que insistir em colar as pontas da máscara
já se percebe a outra face
que nunca foi oferecida
atitudes e palavras são inimigas
desconhecem-se
mas onde está a surpresa nisto?
sempre esteve estampado na cara
eu que nunca quis ver.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010



Sabe aquele dia que você amanhece
com vontade de gritar?
É hoje!!!
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
que isso? não me olha assim, vai me acompanha,
No três 1, 2, 3....
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
conseguiu???
não??? ahhhh se liberta vai!
De vez em quando não faz mal a ninguém gritar um pouquinho!!!
Pode gritar eu vou continuar achando você gente boa...
É eu sei você está me achando meio esquisita hoje.
mas é bom gritar, assim como é bom rir, chorar e amar.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Epitáfio

A tarde vai caindo,
o sol ainda bate na minha janela, insistente,
acho que ele quer companhia para desbravar o horizonte
aquieto-me, minha cadeira me prende
valeria uma caminhada no parque nesta tarde
a cortina transparente parece convidar-me quando o vento a levanta
ponho os pés no chão,
o chão gelado pede um toque quente do pé.
nem faz calor nem frio,
só o sussurro do sol no meu ouvido insistente
me convida a ir para a rua e cantar epitáfio bem alto da janela do carro
sorrio sozinha, sozinha de novo, constância
a solidão já não me atormenta como antes
gosto de ficar comigo mesma por horas
o sol me acompanha o dia todo
faz questão da minha presença
sorri sorrateiro e me convida a um final de tarde no parque
balanço a cabeça, não posso, hoje tem culto logo mais a noite
o sol insiste
ainda é cedo
larga de ser teimosa
canta epitáfio comigo vai...
canta!

descomplica a vida!!!

Faça o melhor, ainda há tempo...





Epitáfio

Titãs
Composição: Sérgio Britto

Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer...

Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe alegria
E a dor que traz no coração...

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor...

Queria ter aceitado
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier...

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...(2x)

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

longe demais...

Estar longe de um amor é uma dor inexplicável,
amargamente suportada,
a alegria trancada nos porões da minha alma,
chora por você,
do outro lado da porta a saudade tem as chaves na mão,
traz na boca um sorriso amarelo, sem graça,
nem disfarça o quanto deseja te ver.
Eu só queria olhar pela janela e ver você chegando...
Só queria olhar o horizonte e ver sua sombra na contra mão do sol,
só queria respirar o mesmo ar que o seu.
onde você anda?
não suporto mais tanta solidão.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Recomendo II

Recomendo a leitura deste texto, simplesmente perfeito.
Achei-o no descansodaalma.blogspot.com, um blog muito inteligente, assinado por Thiago Azevedo, Tininha e Everton Vital. O texto é do Everton...
Aprecie....



A voz do silêncio
Everton Vital

Sem um pouco de silêncio as palavras não brotam, não crescem, não amadurecem como deveriam. Silêncio não é só tempo de espera, é tempo de chuva seguida de sol, vento, sombras, rio, riso, medo e amor. Silêncio é deixar o quintal como está, cheio de folhas, secas ou não, é não se levantar pra limpar. Se Deus se esconde no silêncio, se ele é o silêncio por trás das vozes, porque não deveríamos também calar? Ser imagem e semelhança de Deus é antes de tudo calar, e aprender a ouvir coisas que não têm som. Coisas surdas, mudas, até cegas, e coisas que têm olhos também. É preciso calar pra voz soar melhor. A nossa voz. Doce, rouca, aguda, intensa. O nosso som é aquilo que somos, e o que somos está entre o que não somos e o que o outro é. Silenciar é ouvir uma voz sob todas as vozes. A voz de Deus que se dissolve na densidade do vento que derruba folhas no quintal. Ouvir um galo cantar dentro de si anunciando os dias de molduras antigas. Ouvir a imagem dos que já foram e dos que são - dentro de si. Um silêncio precede o Haja Luz e no sétimo dia Deus se calou. Calou-se pra ouvir a chuva pingando no jardim. Naquele jardim que era um quintal. Quintal: o dia que já foi e que já vem. Tudo sempre começa e termina num quintal. Tudo sempre começa e termina num sem-som. Sem isso as palavras seriam desperdício e queimariam em vão. Quem planta boas palavras colhe flores, árvores risonhas num quintal. Quem semeia silêncio colhe pedaços daquela Palavra Eterna que ecoa em todos os séculos. O doce sacramento que se mescla com o gosto amargo das ervas amargas da vida, e que faz brotar um rio pequeno, um igarapé, de sutilezas. Coisas boas. Sentimentos bons, mesmo quando a chuva é grossa a janela sempre fica aberta pro quintal.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

De repente entardeceu,
não consigo tirar o sorriso dos meus lábios quando me lembro do seu olhar...
que será que é isso?
isso que faz a gente sorrir sozinho, e conversar com as paredes.
relembrar cada palavra dita ou não, mas entendida no olhar.
o sol estava lindo demais, feriado sempre deixa a gente feliz,
e esse caprichou!

domingo, 5 de setembro de 2010

Recomendo.

Genteeeee, olha que delícia de poema que eu encontrei no blog do Nielson, vale a pena ir lá conferir.
www.niestro.blogspot.com



Os 10 mandamentos dos pássaros

correr  atrás do vento.

não ter medo de altura.
não ter inveja dos papagaios, e viver assobiando.
não usar o discurso dos galos.
não dá ouvido as palavras soltas ao vento.
ter uma casa na árvore.
aprender a se equilibrar em varais, fios.
andar em cima do muro, é não decidir com pena.
fazer bico nas conversar.
nunca voar de encontro ao sol.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

eu amo essa música...




Por Onde Andei

Nando Reis
Composição: Nando Reis

Desculpe
Estou um pouco atrasado
Mas espero que ainda dê tempo
De dizer que andei
Errado e eu entendo
As suas queixas tão justificáveis
E a falta que eu fiz nessa semana
Coisas que pareceriam óbvias
Até pra uma criança

Por onde andei?
Enquanto você me procurava
Será que eu sei?
Que você é mesmo
Tudo aquilo que me faltava...

Amor eu sinto a sua falta
E a falta
É a morte da esperança
Como um dia
Que roubaram o seu carro
Deixou uma lembrança

Que a vida é mesmo
Coisa muito frágil
Uma bobagem
Uma irrelevância
Diante da eternidade
Do amor de quem se ama

Por onde andei?
Enquanto você me procurava
E o que eu te dei?
Foi muito pouco ou quase nada
E o que eu deixei?
Algumas roupas penduradas
Será que eu sei?
Que você é mesmo
Tudo aquilo que me faltava..

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

frio

vai passando devagar o tempo,
faz frio, meus pêlos arrepiados e meus pés gelados denunciam.
esfrego as mãos procurando tirar de dentro de mim algum calor
penso num chá quente, é tarde, congelo-me.
minhas mãos esfregam o corpo buscando calor....
a maciez do cobertor poderia resolver, reluto.
o tempo mesmo devagar vai passando
me levantaria da inércia congelante
estimulada pela sua mão estendida
mas ela não está diante de mim
congelo-me ofegante pensando no calor do seu abraço
o toque insistente do celular me desafia
o enterro embaixo do travesseiro
desisto dele.
cansam-se palavras vazias,
melhor não ouvi-las.
o frio insiste assobiando na janela
ouço um buzina
falta-me coragem de levantar
congelei-me
a buzina insiste,
vagarosamente alcanço a janela.
pela vidraça vejo
o calor chegou.

sábado, 14 de agosto de 2010

avessos

por dentro de mim, só tem avesso.
só tem contrários a posição do direito
 tem saudades que por fora, fazem pouco caso
por dentro de mim tem incertezas,
que por fora são verdades...
por dentro, no avesso, meu olhos lacrimejam
no avesso, palavras brotam ,
enquanto no direito se calam.
por dentro de mim, a ira.
por fora compaixão.
o avesso incerto me dilacera,
por fora me costuro.
dentro de mim tem um grito entalado,
por fora um silêncio.
dentro de mim, o avesso se estampa,
por fora a figura desenha.
dentro de mim, a decepção
por fora a compreensão.
no avesso, o amor desencantou-se,
por fora de mim, o amor foi-se (foice).
o avesso não me entende,
o direito me perde.
a boca calada, silenciada
entalada, entulhada.
por fora meus olhos lacrimejam,
pelo avesso junto os pedaços.
costuro-me.
não tem como separar o avesso do direito.
quero ir para longe de mim,
mas percebo minha integridade
sou avesso e direito,
sou contrários que se completam.


quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Insônia

Vai amanhecendo devagar, o sol entra cuidadoso pela janela
Temeroso em acordar-me, espreguiça-se silencioso.
Já me encontro em alerta,
minha alma inquieta despertou, antecipando-se,
O sono foi embora ainda escuro,
deixou-me como quem deixa um amor que acabou
Envolvida nos braços macios do cobertor, insisto.
Doe-me os ossos.
O sol acaricia meu rosto, reluto.
Porque insistir em algo que se foi,
Porque lutar, perdeu-se.
Pensamentos substituiram o sono,
revezam-se a anos, brigam entre si,
disputam favores, preferências.
Sem favoritismo sigo dividindo a noite.
E repartindo o dia.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

saudades...

saudade machuca, doi no peito a solidão desnuda.
olhando pela janela, ja não te vejo,
no chão o vento apaga teus passos.
inconstantes, às vezes querendo voltar.
meus olhos molhados seguem teus rastros
não me resta nada além da dor inconfundível da solidão
minha alma cansada luta desesperada procurando alento
a dor nostalgica da saudade é quase um acalento.
pensamentos, esperanças, onde foram minhas verdades?
deixaram-me?
o tic-tac do relógio acusa o tempo da despedida
apago a luz, já não há esperança
fecho a janela, tranco a casa,
corro atrás de vc!

sábado, 7 de agosto de 2010

Lembranças....

Ele procurou por uma campainha. Até onde se lembrava havia uma no canto da parede, mas não conseguia encontrar, quando olhou para cima viu uma câmera de segurança o observando, e logo abaixo um interfone, pensou em como a modernidade havia chegado num lugar tão remoto como aquele. Não exitou, tocou o interfone, depois de alguns, para ele intermináveis minutos, uma voz atende do outro lado. Explicado o motivo da visita o pesado portão, agora eletrônico, vai abrindo-se devagar. Olhando para o interior tudo parece intocado, o jardim de margaridas estava lá florido, as roseiras cheias de rosas vermelhas. Lembrou-se de quantas vezes havia furado os dedos ali cuidando das rosas, o chafariz que despejava água por duas jarrinhas que se encontravam no centro da fonte ainda funcionava. Uma vez ele e seus amigos, todos crianças, brincavam próximo da fonte e um deles o derrubou dentro dela, molhando-o todo, foram muitas broncas e o castigo, uma semana sem lanche a tarde e um dia inteiro de castigo dentro do dormitório. Afinal, muitas coisas haviam acontecido, pensou em perde-se em pensamentos, mas não houve tempo, uma senhora rechonchuda aproximava-se, sorriso simpático, ficou buscando na memória, achava que a conhecia. Sim, a conhecia, era Rosinha, a pequena mocinha que ajudava nas tarefas da cozinha, nossa como ela havia mudado, agora era uma senhora de uns quarenta anos, por ai, considerando o fato dele hoje ter trinta anos, ela deveria ter uns quarenta ou quarenta e cinco no máximo. Ela não teve a menor cerimônia, o abraçou apertado e sorrindo muito de alegria- Antonio, achei que nunca mais ia ver você, olhe para você é um homem feito, como está bonito!- Ele sorriu meio sem graça, não esperava aquela recepção, muito menos encontrar a Rosinha por ali depois de tantos anos, afinal ela era uma que sempre quisera fugir daquele lugar. Rosinha entendeu seu olhar perplexo, e foi conduzindo-o ao interior do orfanato. Só de passar pelas portas ele sentiu uma sensação estranha, parecia que suas pernas falhavam e suas mãos estremeciam, Rosinha percebeu o choque e segurou mais forte a sua mão, confortando-o com um sorriso- Antonio, este lugar não é mais o mesmo que você conheceu, existe uma história que eu vou te contar- Neste momento passam por ele um grupo de crianças correndo e sorrindo alto, definitivamente não era o mesmo lugar, lembrou-se de atravessar aquele corredor inúmeras vezes, em fila e sempre calado, sem sorrir, aliás sorrir era uma coisa que ele teve que aprender depois que saiu de lá. Junto com  grupo vinha uma professora linda, devia ter um vinte e cinco anos, ela trazia pela mão uma criança com síndrome de Daw, outra coisa absurda, o orfanato jamais havia admitido crianças "com defeito", esta situação o fez virar-se para trás, e ver a professora sorrindo para ele e a criança também. Não sabe bem por que mas sentiu um certo conforto com aquelas duas pessoas sorrindo e mais a mão de Rosinha que ainda o segurava, conseguiu sorrir de volta. Pararam em frente a sala da diretoria, um frio subiu pela sua espinha, quantas vezes foi até aquele lugar para ser castigado, ou receber tarefas novas para cumprir ou na esperança de que havia alguém que quisesse adotá-lo. Bem, na verdade um dia houve alguém sim que quis adotá-lo. Rosinha o confortou -Não se preocupe, Antonio, você não vai encontrar a Dona Amália por detrás destas portas, ela já se foi desta vida, agora esta sala é minha- A porta foi abrindo devagar, ele não podia acreditar, eram os mesmo móveis clássicos, mas havia flores nos vasos, retratos de crianças nas paredes, um canto com brinquedos pedagógicos, o tapete debaixo de seus pés era macio, as janelas estava abertas e o sol fazia parte da sala, era quase inacreditável que na antiga sala da Dona Amália agora houvesse vida! Foi convidado a sentar-se, possivelmente a primeira vez depois de trinta anos que se sentava naquela cadeira, sempre ouviu seus comandos em pé, e ás vezes ouviu broncas ajoelhado em frente a parede, mas jamais havia sentado ali. Pacientemente, Rosinha foi contando toda a história para ele, tudo que aconteceu naquele lugar depois que ele havia ido embora adotado pela família Soares, uma abastada familia do sul do país.  O processo de mudança  começou com a denúncia de uma ONG, sobre os maus tratos que ocorriam com as crianças no orfanato, então aconteceu a intervenção do governo federal e a dona Amália foi afastada da direção do orfanato, uma entidade beneficiente tomou conta do local, mas foram tempos dificeis de adaptação e muito planejamento, algumas vezes eles passaram por várias dificuldades, mas o tempo foi o melhor amigo do orfanato, Rosinha  contou que com ajuda da ONG, fez faculdade de psicologia e não conseguiu se fastar daquele local, havia muitas crianças que precisavam de amor ali e ela estava muito presa emocionalmente aquele lugar, afinal foi a casa onde ela foi criada, desde bebê quando fora abandonada ali. Ela na verdade nunca conseguira localizar sua pobre mãe que abandonara, mas ela sabia que ali havia muitos irmãos e irmãs suas que precisavam dela e isto a motivou a continuar. Antonio estava pasmo, era tão inacreditável estar ali ouvindo tudo aquilo e não se conteve e chorou emocionado, comovido, esperançoso, enfim aliviado, sentia-se vingado, justificado. Rosinha que sempre fora uma "manteiga derretida" chorou junto e ficaram assim por quase uma hora recordando lembranças e conhecendo os novos planos do orfanato. Enfim havia chegado o momento, o motivo da visita veio a tona, Rosinha disse ao Antonio que após uma detalhada pesquisa, respondendo a um pedido escrito que ele havia enviando antes, ela havia conseguido localizar a pessoa que o deixara, trinta anos atrás naquele lugar. Abriu a gaveta e passou a ele um papel com um nome de mulher e um endereço escrito - Ela está viva, mora neste endereço, na cidade vizinha, não estive pessoalmente com ela, falei ao telefone, mas ela o aguarda ansiosa- Realmente dona Amália havia mentido a familia Soares, quando alegou que não sabia quem era sua mãe verdadeira, só agora depois de trinta anos que ele saberia os motivos do abandono. Levantou-se para partir, mas Rosinha o deteve, de jeito nenhum o deixaria ir embora sem conhecer o "novo" orfanato e o levou a um passeio pelas dependências, disse a ele que  seria bem vindo se quisesse ajudar aquelas crianças, afinal sabia que agora ele era um advogado formado e já com uma experiência e sua ajuda seria muito bem vinda, uma vez que sabia também que ele já não morava no Rio Grande do Sul e havia voltado para São Paulo, não havia se casado ainda e estava montando um ecritório de advocacia. Antonio sorriu perguntando onde ela havia adquirido tantas informações, Rosinha se limitou a falar que era uma boa detetive. Chegaram ao antigo refeitório, era hora do almoço, as crianças conversavam e comiam alegres, lembrou-se de suas antigas refeições ali, podia-se ouvir o barulho de uma folha caindo no chão, sorriu satisfeito finalmente conseguiu sentir-se seguro naquele lugar, as crianças sorriam e uma delas abraçou suas pernas quando virou-se viu a linda menina que portava Síndrome de Daw, ela segurando sua pernas sorriu dizendo que ele era bem vindo ali, ele abaixou um pouco e tomou-a nos braços, quando virou  se deparou com o sorriso de Rosinha e da professora linda que ele nem sabia o nome. Pensou que afinal poderia sim demorar um pouco mais ali, e quem sabe voltar e continuar a reescrever aquela história. O encontro com a mãe ficou um pouco mais para o final da tarde. 

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Morango com chocolate...

Já estava tarde. Chovia um pouco. Um copo de chocolate quente e um programa de humor eram sua companhia, o perfume do banho recém tomado vinha do banheiro, que sabonete cheiroso- pensou- teria valido a pena trocar a fragância. Pensou em algo para comer, mas todas as idéias eram extremamente calóricas, riu-se e imaginou que morangos combinariam com o chocolate. Foi até a geladeira e achou os frutinhos, vermelhinhos e saborosos, depois de prepará-los, engalfinhou-se no sofá quentinho. O gato miava querendo colo, mas ela o pôs na manta no chão próximo ao sofá, não demorou muito para que ele adormecesse.
O programa da TV estava muito chato, mas hoje em dia qual TV não anda chata? Percorreu os canais a cabo, achou uma comédia romântica, não! Ela não queria ver aquilo...  não teve jeito aquele ator lindo chamou sua atenção e aquela atriz, sim, eram o par perfeito. Ficou pensando como hollywood tinha este dom de juntar pares perfeitos, riu-se talvez fosse o caso de dar uma passadinha por lá, quem sabe encontraria algo. Já fazia três dias desde o rompimento, não se sabe ao certo qual teria sido o motivo da briga, um amontoado de coisas, talvez... um cansaço acumulado através dos anos? vai saber...
Mas, definitivamente, não queria pensar nisto, afinal, já teve tempo suficiente para ambos pensarem muito, agora só restava esperar e ver os acontecimentos.
O telefone tocou. Seu coração pulou num sobressalto, será que justamente ele teria resolvido ligar, suspirou fundo e depois do alô a decepção, era sua amiga que preocupada perguntava por onde ela andava, conversas, risinhos, algumas lágrimas, mais risinhos e a amiga desliga.
Antes só do que mal acompanhada, mas que isso? que bobagem era essa que ela estava pensando, depois de tantos anos juntos. Chega! Chega! Chega! O filme estava bom, era só aproveitar e ver Julia Roberts beijando aquele lindo do Hugh Grant, enfim valeria a pena. Riu-se de novo, como mulher era fácil de se enganar, era só ver romance na TV e pensar que era ela mesma no papel principal.
O filme já caminhava para o final, era o momento do arrependimento do moço de não ter ido atrás da amada e aquela correria de encontrá-la havia começado.
Lembrou-se do dia em que se perderam num parque de diversões, algo que parecia impossível de acontecer havia acontecido, ele estava em uma barraca de tiros e ela como sempre detestou armas, nem havia se arriscado, saiu destraída olhando as pessoas e as crianças brincarem com algodão doce, quando deu por si estava longe da barraca e quando voltou, ele já não estava lá. Ele havia terminado seus tiros e saído ao encontro dela na direção oposta, achando que ela queria comprar uma pipoca doce que estava mais a frente. Enfim, perderam-se. Ela ficou pensando no que sentiu naquele dia, um misto de medo com saudade, alguma nostalgia de estar ali sem ele, foi quando ouviu no alto-falante do parque- "Angélica, seu amado Luíz a aguarda ansiosamente em frente a roda gigante, por que ele disse para mim que sem você, não pode viver"- Foi hilário aquele dia, e quando chegou em frente a roda gigante, lá estava ele e mais um bocado de gente esperando para ver se a Angélica tão amada apareceria, lógico que teve o beijo e alguns aplausos tímidos... Olhou para a estante, lá estava a foto do dia do parque eternizando aquele momento, sentiu lágrimas nos olhos , enxugou-se, lembrou-se do filme, Hugh Grant já declarava seu amor por Júlia, na frente de um monte de repórteres...
Suspirou, pensando que lindo aquilo, comeu um morango. A campanhia tocou, outro sobressalto, com certeza não era ele, porque ele tinha a chave do apartamento, nem era alguém estranho, senão o porteiro teria avisado. Devia ser sua vizinha que lhe prometera levar um pedaço de alguma coisa gostosa que ela havia feito, pensou que era muito tarde, mas como a vizinha estava solitária... Comeu outro morango.
Abriu a porta e não podia acreditar, ele estava lá na sua frente, meio molhado pela chuva, com uma rosa na mão, um sorriso nos lábios e uma frase de amor na boca. Ela sorriu, afastou-se para que ele entrasse, pegou a rosa. Cheirou-a e foi surpreendida por um beijo, seu olhar interrogativo foi respondido pela resposta dele-estava limpando um restinho de chocolate.
Ela o abraçou, nada mais precisava ser dito naquele momento. Quando olhou a TV, Julia Roberts descansava num banco de jardim no colo de Hugh Grant, mas ela já não  fazia mais inveja, pois seu amado voltara.
Descobriu que afinal,  Hollywood, estava mais próximo do que ela imaginava.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

nem tudo tem um título...

o vento bate frio na janela,
aqui dentro minha alma quente,
o vento insiste...
minha alma cada vez mais se aquece,
que calor é esse, quase estranho.
uma satisfação de um desejo cumprido
concorrido e maleável,
finalmente aceitado dentro de mim...
suspiro fundo!
movimento o pescoço em círculos,
fico tonta,
pensamentos me rodeiam...
bocejo, sossegada, inqueitamente sossegada!
apatia me cercou?
deslizo os dedos nos cabelos lisos,
quase letárgica, sorrio para mim
decididamente nos últimos anos tenho sido minha melhor companhia.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

olhando de outro ângulo

Estava um dia de sol, Mariana adorava sentir o cheiro das flores do jardim, como era bom sentir aquele calorzinho nas maçãs do rosto e ficar apertando os olhos de frente ao sol, para depois quando abri-los ver muitas estrelinhas no ar, ela ria-se sozinha de felicidade, como era bom estar ali naquele jardim ouvir passarinhos, e logo ali tinha um beija-flor numa florzinha artificial que sua avó, estratégicamente, colocara dependurada na varanda.
Havia muitas espécies de plantas, cada uma mais bem cuidada que a outra. Mariana cuidadosamente passeava por elas, nada de estragar as plantas da vó Maria. Um gato preguiçoso tomava sol estirado em cima de umas telhas, Mariana coçou sua barriguinha e ele revirou-se num dengo só. Era bom se sentir assim tão leve, tão solta, poderia correr atrás dos passarinhos, se quisesse, olhar a natureza e sentir-se parte dela.
Alcançou o pé de goiaba, estava carregado, pensou que sorte a sua vir para a casa da vó Maria  bem na época das goiabas, ela adorava goiabas, vermelhas principalmente, madurinhas, apetitosas.
Foi bom fugir um pouco da cidade, das ruas movimentadas, do calor do asfalto, dos compromissos a resolver, do fórum, dos processos, de tantas coisas a fazer. E ela precisava se desligar de tudo isso, pelo menos por uma semana, que seria o tempo de estadia na casa da vó Maria. Precisava descansar, repensar, deveria se casar? seria ele o homem da sua vida? nada melhor do que afastar-se do problema para enxergá-lo de outro ângulo, mas o que ela estava pensando, ele não era um problema, era um adicional na sua vida, viria completá-la, ajudá-la e reciprocamente ela faria o mesmo.
Um vento soprou seu rosto, como era bom estar ali. Fechou os olhos, e ouvia a sua a avó chamá-la - Vem Mariana, comer bolo de fubá- Ela adorava bolo de fubá, respondeu que já iria e, cuidadosamente, foi voltando rodando as rodas da sua cadeira.

terça-feira, 20 de julho de 2010

o encontro

Aconteceu bem de repente, foi um olhar rápido pela janela do carro, um meio sorriso no rosto. Sinal fechou, os carros pararam lado a lado, ela quase não teve coragem de virar-se, mas não aguentava esperar mais, e virou-se e encontrou outro olhar, encarando-a. Aquele olhar ela já conhecia, olhos cansados mas brilhantes, olhos marcantes, lembrou-se daquele olhar severo, repreendendo-a de algumas coisa no decorrer da vida. Não seria possível aquilo estar acontecendo, depois de tantos anos longe de casa, encontrar por acaso seu velho pai no trânsito. Era muito pouco provável disto acontecer até porque ele morava em outra cidade. O que estaria fazendo ali? e dirigindo um carro? até onde ela se lembrava ele havia tido problemas com sua carteira de motorista, por causa de multas graves, havia perdido a carteira.
Era realmente inesperado, ele parecia um pouco assustado, de certo também não esperava aquele encontro. Ela se lembrou do dia em que saiu de casa, qual tinha sido mesmo motivo? Ah sim, a desculpa tinha sido um namorado que ela havia arrumado e ele não havia concordado, por onde será que andava aquele rapaz, fonte de tantos contratempos? A sua boca quis balbuciar algumas palavras para seu pai, ele a olhava apreensivo como se não quisesse perder aquela oportunidade. O sinal ia abrir, não haveria tempo para um diálogo de reconciliação. Ela sentiu no peito a dor da saudade da mãe, um misto de amor e raiva, amava-a demais e quando ela se foi desta vida, que solidão... e ter que viver com aquele homem que eatava ali ao lado, perverso, severo, radical. Não, definitivamente, não gostaria de falar com ele, era melhor olhar a frente e imaginar que era um estranho no carro ao lado, afinal não era isso que tinha sido todos estes anos, um estranho?
Ela ouviu uma leve buzina, virou-se, algumas lágrimas caiam do rosto do estranho do carro ao lado, não podia acreditar. Aquele homem tinha lágrimas dentro dele? como nunca tinha visto isso? Ele disse algo que não se podia entender, ela tentou focar o sinal a sua frente que já deveria ter aberto. Outra buzina de leve, ela não podia acreditar que estava passado por isto, olhou abaixou o vidro, as lágrimas insistiam. Interrogou secamente, sobre o motivo dele estar ali, e ele chorando disse que estava à sua procura e pediu que ela encostasse o carro mais a frente. O sinal abriu, ela seguiu com o carro um pouco mais, e finalmente tomou coragem e encostou o carro, o estranho parou logo atras. Não tinha mais como correr, chegou a hora de finalmente se conhecerem.

domingo, 18 de julho de 2010

IDENTIDADES MULTIPLAS

Quando olhas dentro dos teus  olhos, vês o castanho da terra seca
a água que rega essa terra parte de dentro deles e escorre transparente pelas maçãs
sua imagem refere-se a uma duplicidade compartilhada por outras imagens
os papéis que desempenhas se entrelaçam, se embaraçam, se amontoam, se amassam
dentro de você, respiram vários eus, confundem-se?
cada eu se fortalece em determinado tempo, apegando-se mais fortemente na sua alma
ás vezes acalenta, ás vezes se maqueia, ás vezes se entrega a dor , ás vezes ao amor.
nenhum deles consegue apagar o outro, múltiplos, divergentes, convergentes
atentos e desatentos ao passar as página da vida
alguns deles julgam-se suficientes e arrogantes sufocam seus companheiros
alguns julgam-se inferiores e elevam seus pares.
a imagem nem sempre é fiel, traços fortes marcam o rosto cansado.
Haverá motivo para continuar a luta?
sempre há motivo, sempre há uma razão ainda que seja contraditória ao que é razão para alguns.

sábado, 17 de julho de 2010

sem título

meus olhos percorrem as ruas da cidade
almas perâmbulam por elas, perdidas nos seus corpos viventes
indecivas, vulneráveis, aflitas por socorro
minha boca deveria pronunciar palavras de alento
minha mão deveria alcançá-las
o pedido de socorro ecoa no ar
grita desassossegado dentro de mim
o convencional já não resolve
elas já não ouvem
muitas vozes maiores que a minha ecoam nas ruas,
telas amplas e pequenas trazem respostas rápidas e vazias
o pedido de socorro é silenciado por alguns momentos para alguns
mas sempre tem almas morimbundas vagando 
aflitas sem resposta, sem alento
penso em responder
será que tenho as respostas certas?
não seriam minhas respostas convencionais demais?
não seriam óbvias demais?
quando me percebo no contexto
estou caminhando na rua vazia.