terça-feira, 20 de julho de 2010

o encontro

Aconteceu bem de repente, foi um olhar rápido pela janela do carro, um meio sorriso no rosto. Sinal fechou, os carros pararam lado a lado, ela quase não teve coragem de virar-se, mas não aguentava esperar mais, e virou-se e encontrou outro olhar, encarando-a. Aquele olhar ela já conhecia, olhos cansados mas brilhantes, olhos marcantes, lembrou-se daquele olhar severo, repreendendo-a de algumas coisa no decorrer da vida. Não seria possível aquilo estar acontecendo, depois de tantos anos longe de casa, encontrar por acaso seu velho pai no trânsito. Era muito pouco provável disto acontecer até porque ele morava em outra cidade. O que estaria fazendo ali? e dirigindo um carro? até onde ela se lembrava ele havia tido problemas com sua carteira de motorista, por causa de multas graves, havia perdido a carteira.
Era realmente inesperado, ele parecia um pouco assustado, de certo também não esperava aquele encontro. Ela se lembrou do dia em que saiu de casa, qual tinha sido mesmo motivo? Ah sim, a desculpa tinha sido um namorado que ela havia arrumado e ele não havia concordado, por onde será que andava aquele rapaz, fonte de tantos contratempos? A sua boca quis balbuciar algumas palavras para seu pai, ele a olhava apreensivo como se não quisesse perder aquela oportunidade. O sinal ia abrir, não haveria tempo para um diálogo de reconciliação. Ela sentiu no peito a dor da saudade da mãe, um misto de amor e raiva, amava-a demais e quando ela se foi desta vida, que solidão... e ter que viver com aquele homem que eatava ali ao lado, perverso, severo, radical. Não, definitivamente, não gostaria de falar com ele, era melhor olhar a frente e imaginar que era um estranho no carro ao lado, afinal não era isso que tinha sido todos estes anos, um estranho?
Ela ouviu uma leve buzina, virou-se, algumas lágrimas caiam do rosto do estranho do carro ao lado, não podia acreditar. Aquele homem tinha lágrimas dentro dele? como nunca tinha visto isso? Ele disse algo que não se podia entender, ela tentou focar o sinal a sua frente que já deveria ter aberto. Outra buzina de leve, ela não podia acreditar que estava passado por isto, olhou abaixou o vidro, as lágrimas insistiam. Interrogou secamente, sobre o motivo dele estar ali, e ele chorando disse que estava à sua procura e pediu que ela encostasse o carro mais a frente. O sinal abriu, ela seguiu com o carro um pouco mais, e finalmente tomou coragem e encostou o carro, o estranho parou logo atras. Não tinha mais como correr, chegou a hora de finalmente se conhecerem.

2 comentários:

  1. Selminha, que coincidência! Também acabei de escrever uma crônica que se passa num sinal fechado, só que meu texto é mais leve e tem um pouco de humor...rsss Depois confere no olhor o tempo.

    Olha, você escreve muito bem. Gostei muito desse pequeno conto. Reconciliação entre pai e filha no meio caótico de um trânsito de uma cidade qualquer.

    Bravo.

    beijos

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  2. Obrigada Eduardo, vou conferir sim... rs.
    O trãnsito sempre reserva surpresas!
    bjks

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